Uma mulher que fez consulta com o ginecologista Nicodemos Júnior Estanislau Morais, de 41 anos, suspeito de crimes sexuais, chorou no consultório durante o exame de toque. O depoimento foi dado à delegada Isabella Joy na última sexta-feira (8). Ao todo, 56 pacientes de Anápolis e Abadiânia fizeram denúncias contra ele.
O médico está preso no Complexo Prisional de Aparecida de Goiânia. Nicodemos Júnior nega os crimes pelos quais é investigado de violação sexual mediante fraude, importunação sexual e estupro de vulnerável (veja o histórico de prisões abaixo). A defesa disse, nesta quarta-feira (13), que não vai se pronunciar.
A paciente mora em Anápolis e procurou o ginecologista para consulta de rotina após cirurgia para retirada do útero feita com outro médico.
A delegada contou nesta quarta-feira que o profissional deixou de atender pelo plano de saúde dela e, por isso, a mulher marcou consulta com Nicodemos Júnior em um hospital particular, em 2018.
“Ela contou que ele manipulou o órgão sexual dela durante o exame de toque, mesmo sem ter o útero. Por isso, ela ficou paralisada na hora e começou a chorar no consultório. Ele, então, encerrou o exame. Até hoje essa mulher faz tratamento contra depressão e síndrome do pânico”, detalha a delegada.
O Conselho Regional de Medicina de Goiás (Cremego) interditou o registro dele por seis meses, podendo ser prorrogado por igual período.
Ginecologista Nicodemos Júnior Estanislau Morais é preso novamente em Anápolis, Goiás — Foto: Polícia Civil/Divulgação
Nicodemos Júnior foi preso pela primeira vez em 29 de setembro, após denúncia de três vítimas de Anápolis. Depois, mais de 50 mulheres registraram ocorrência. Ele foi solto em 4 de outubro após decisão da Justiça e era monitorado por tornozeleira eletrônica.
Porém, mais vítimas de Abadiânia registraram ocorrência e ele foi preso novamente em 8 de outubro. Desde então, o méidoc está detido no Complexo Prisional de Aparecida de Goiânia.
O Ministério Público de Goiás recorreu à época da primeira decisão de soltura. O recurso foi acatado pelo desembargador Itaney Campos, que revogou a prisão feita pela primeira vez.
Ginecologista Médico Nicodemos Júnior Estanislau Morais, de 41 anos, foi preso suspeito de violação sexual contra pacientes enquanto trabalhava, em Anápolis, Goiás — Foto: Reprodução/TV Anhanguera
O médico passou por audiência de custódia sobre o segundo pedido de prisão, feito por Abadiânia. A delegada informou que a prisão foi mantida pelo Judiciário.
“De agora em diante tem duas prisões decretadas. Tanto para os casos de Abadiânia, quanto para os casos de Anápolis. Isso quer dizer que é muito mais difícil ele ser solto daqui para frente”, afirmou a promotora Camila Fernandes Mendonça.
As pacientes relatam diversos tipos de comportamentos e comentários com conotações sexuais por parte do ginecologista. Uma das vítimas disse que, durante uma consulta no ano passado, o médico elogiou seus olhos e também o órgão sexual. Em seguida, perguntou sobre sua relação sexual com o marido.
“Eu fiquei congelada e ele fazendo manipulações, isso tudo com os dois dedos introduzidos na minha vagina. Eu não consegui nem respirar no momento. É uma situação que a gente nunca espera que vai acontecer”, contou.
Ginecologista preso suspeito de crimes sexuais pediu a paciente para ir bronzeada em consulta, em Goiás — Foto: Montagem/G1
Outra paciente relata que foi abusada pelo ginecologista durante o atendimento. Ela decidiu falar sobre o caso após a prisão do suspeito.
“Ele teve conversas inadequadas, me mostrou sites obscenos, brinquedos eróticos e tocou em mim não da forma que um ginecologista deveria tocar. Quando ele colocou minha mão na parte íntima dele, sabe?”, disse a paciente, que não quis se identificar.
Ginecologista Nicomedemos Júnior manda mensagem de cunho sexual a mulher em Anápolis, Goiás — Foto: Reprodução/TV Anhanguera
Entre as denúncias, também está a da aromaterapeuta Kethlen Carneiro, de 20 anos, que procurou a Polícia Civil para relatar que foi abusada por ele quando ainda tinha 12 anos. Durante o atendimento, segunda ela, o médico sugeriu a leitura de material pornográfico.
“Ele veio me falar que eu podia começar a me masturbar. Me mostrou histórias em quadrinho pornô e vídeos. Me mandando os links e quais eu podia assistir. Depois levantou, pegou minha mão e colocou nele, na parte íntima dele”, disse.
Ginecologista Nicodemos Júnior Estanislau Morais — Foto: Divulgação/Polícia Civil
Em conversa por uma rede social, outra paciente pede informações ao ginecologista sobre o uso do anel vaginal, um método contraceptivo. Em um momento, ela pergunta se ele não atrapalha a relação sexual e se o parceiro não o sentiria. O médico, então, responde:
“Bom, minha namorada já usou e eu não percebi diferença alguma. Posso testar kkk. Brincadeira”.
Pacientes revelaram à polícia conversas que tiveram com o médico em redes sociais e no consultório onde atendia. Segundo elas, muitas tinham cunho sexual, como “transar fortalece amizade” ou “faz o bronzeamento e me mostra”.
Nicodemos Júnior nega que as assediou. Ele disse que comentários em aplicativos de mensagens eram “brincadeira” e admitiu que isso foi um erro.
“É muito complexo. Eu brinco com algumas coisas. Às vezes, nisso, eu pequei, realmente. (…) Mas, nunca, em nenhum momento, eu toquei em uma paciente com objetivo de ter prazer sexual ou de fazer ela ter um prazer sexual, porque o objetivo ali é o exame físico”, disse.
“Muitas vezes, elas falam, ‘olha, doutor, eu fiz alguma coisa assim, será que vai acontecer alguma coisa?’. Um erro meu, concordo, brinco no WhatsApp, comento alguma coisa de uma forma inadequada. Concordo que eu fiz isso, nisso eu estou errado”, admitiu.
Limite entre médico e paciente
Os termos usados nas mensagens não condizem com a conduta ética da categoria, segundo o diretor da Sociedade de Ginecologia e Obstetrícia de Goiás (SGB-GO), Rodrigo Teixeira Zaiden. Ele afirma que os profissionais não devem entrar na intimidade dos pacientes com palavras de baixo nível.
“Você não deve entrar na intimidade da paciente com palavras desse nível. Nesse momento, o médico tem que ter muito cuidado com as palavras que vai usar. A gente orienta que se faça da maneira mais cientifica possível, deixando claro os limites entre o médico profissional e aquela paciente”, explica Zaiden.
Fonte: G1