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As desigualdades persistem no mercado de trabalho para as mulheres. No entanto, avanços vão se consolidando, e alguns dos principais órgãos globais ligados à economia estão em mãos femininas, como o Fundo Monetário Internacional (FMI), a Secretaria do Tesouro dos Estados Unidos, a Organização Mundial do Comércio (OMC), o Banco Central Europeu (BCE), entre outros. No Brasil, a realidade é muito diferente. Além da ministra da Agricultura, Tereza Cristina, temos apenas três representantes em postos de peso no setor econômico governamental: duas diretoras do Banco Central e a secretária Especial do Programa de Parceria de Investimentos (PPI) do Ministério da Economia.
Christine Lagarde, atual presidente do Banco Central Europeu (BCE), ficou conhecida como a primeira mulher a comandar o Fundo Monetário Internacional (FMI). Ela também é lembrada pela carreira política e ocupou mais de um ministério na França. Com a saída de Lagarde, o cargo de diretora-gerente do FMI passou às mãos de outra mulher, a búlgara Kristalina Gueorguieva. O órgão tem, ainda, a indo-americana Gita Gopinath como economista-chefe, desde 2019.
A Organização Mundial do Comércio (OMC), desde 1º março, passou a ser liderada pela primeira vez por uma mulher. A nigeriana Ngozi Okonjo-Iweala definiu como uma de suas metas promover o acesso dos países pobres às vacinas contra a covid-19. No universo de instituições multilaterais, merece destaque ainda a alemã Ursula von der Leyen, que preside a Comissão Europeia desde dezembro de 2019.
Com a chegada de Joe Biden à presidência dos Estados Unidos, a economista Janet Yellen foi confirmada pelo Senado e tornou-se a primeira mulher secretária do Tesouro americano. Yellen, de 74 anos, também foi a primeira mulher a presidir o Federal Reserve (Fed, o banco), no governo Obama. Foi, ainda, a primeira personalidade feminina a chefiar o Conselho de Assessores Econômicos da Casa Branca, no governo de Bill Clinton. Com a nomeação para o Tesouro, Yellen se destaca por ter ocupado os dois principais cargos econômicos do país, em duas diferentes gestões.
Mercado doméstico
No Brasil, o leme das decisões econômicas está longe do universo feminino. A ministra da Agricultura, Tereza Cristina, é uma das quatro representantes femininas no primeiro escalão econômico do governo Bolsonaro. Fernanda Feitosa Nechio assumiu, recentemente, a Diretoria de Assuntos Internacionais do Banco Central. Fernanda foi research advisor (consultora para pesquisa) no Federal Reserve Bank de São Francisco, onde trabalhou por 10 anos. Ela é bacharel e mestre em Economia pela PUC-Rio e PhD em Economia pela Universidade de Princeton. Além dela, no BC, Carolina de Assis Barros comanda a Diretoria de Administração. Fernanda é a quarta mulher a comandar uma diretoria na história da instituição. Além de Carolina, as outras foram Teresa Grossi e Celina Arraes.
No Ministério da Economia, Martha Seillier chefia a Secretaria Especial do PPI. Ela foi a primeira mulher a ocupar o cargo de CEO da Infraero. Já foi assessora-chefe da Casa Civil da Presidência da República, onde participou da equipe que elaborou as reformas trabalhista e da Previdência. E, também, diretora do Departamento de Regulação e Concorrência da Aviação Civil (DERC), da Secretaria de Aviação Civil da Presidência, e coordenadora no Departamento de Política do órgão.
Atualidade
Segundo a Organização Mundial do Trabalho (OIT), a Jordânia lidera o ranking dos países com mais mulheres em cargos de chefia: 62%. O Brasil aparece na 25ª posição, com 39,4%. Dados da empresa de consultoria Grant Thornton sobre o mercado de trabalho, em 2020, mostram um aumento encorajador nas mulheres em cargos no topo da hierarquia (diretoria executiva, diretoria-geral ou presidência), com aumento de cinco pontos percentuais. Mas houve declínio nos postos de diretoria financeira, “uma posição em que as mulheres têm sido tradicionalmente bem representadas”, destaca o relatório.
No geral, as mulheres têm maior probabilidade de trabalhar como diretoras de recursos humanos (RH), uma função tradicionalmente forte no emprego feminino — mas a proporção dessas funções preenchidas por mulheres caiu três pontos percentuais em 2020. “É possível que as mudanças reflitam um movimento dentro do mesmo subconjunto de diretoras, ganhando promoções e mudando a função de CFO (financeiro) para CEO (executiva), sem haver progresso no número total de mulheres ocupando cargos de nível executivo”, avalia o documento.
Elas são, ainda, com base nas estatísticas da Grant Thornton de 2020, 20% contra 80% de homens como CEOs, e somente 30% das CFOs. “Apesar da mudança nas funções realizadas, ainda há um preconceito de gênero em todas as funções seniores. As mulheres mais velhas são a maioria propensa a trabalhar como diretora de RH, mas ainda são fortemente superadas por homens, que representam 60% dos diretores de RH”, reforça o levantamento.
O que vem por aí
As saídas para possíveis mudanças não são fáceis. A era da automação e as tecnologias de inteligência artificial (IA) vão oferecer novas oportunidades de emprego e caminhos para o avanço econômico, mas as mulheres tendem a enfrentar novos desafios, sobrepostos aos antigos. Entre 40 milhões e 160 milhões de mulheres em todo o mundo precisarão fazer a transição entre ocupações atuais e futuras até 2030, geralmente para funções de maior qualificação. Na verdade, mulheres e homens precisam ser qualificados, flexíveis e ter conhecimento de tecnologia.
Mas as mulheres enfrentam barreiras generalizadas em cada uma delas e precisarão de apoio direcionado para avançar no mundo do trabalho afirma o relatório O futuro das mulheres no trabalho: Transições na era da automação, elaborado pelo McKinsey Global Institute (MGI). O MGI conclui que, se as mulheres fizerem essas transições, estarão no caminho para ser mais produtivas e mais bem pagas. Do contrário, podem enfrentar uma disparidade salarial crescente ou ficar ainda mais para trás.
As mulheres fazem diferença no serviço público, ainda mais quando estão em cargos de liderança. Um dos exemplos da força feminina é a servidora pública Natália Teles. Ela ajudou a criar a Escola Virtual.Gov, um portal do governo que oferece cursos gratuitos de ensino a distância para o funcionalismo e para a sociedade em geral. Diversas instituições são parceiras dessa escola, inclusive algumas de renome internacional.
“Dificuldades são gatilhos de transformação”, diz Natália. Foi em um momento muito difícil da vida que a brasiliense começou a empreitada da EscolaVirtual.Gov: havia acabado de perder a mãe, vítima de câncer, e dado à luz o primeiro filho.
Natália foi a vencedora do prêmio Espírito Público 2020, na categoria Gestão de Pessoas, que é concedido pelo Instituto República. A República.org trabalha para que mais mulheres ocupem posições de liderança e para melhorar a gestão de pessoas no serviço público.
Outra mulher que se destacou no serviço público foi a servidora gaúcha Pâmela Billig Mello Carpes, professora associada da Universidade Federal do Pampa, que também recebeu o prêmio Espírito Público.
Ao longo de uma década, Pâmela trabalhou para fazer a diferença na vida de estudantes e da população de Uruguaiana (RS). Atualmente, ela é responsável por um projeto que tenta desvendar questões sobre a memória e aprendizagem de crianças no ambiente escolar. O trabalho de neurociência atende diversas escolas públicas de Uruguaiana.
A cientista criou o Programa PopNeuro: Ações para divulgação e popularização da neurociência nos colégios da região. Um dos objetivos do programa é quebrar o estereótipo de que mulheres não podem estar na ciência. Pâmela busca estimular o caminho da pesquisa e da ciência nas estudantes e, assim, superar o desequilíbrio de gênero nessas áreas. A profissional pública foi, também, uma das cientistas a reivindicar a inclusão da licença maternidade no currículo Lattes.
Dados publicados pela Associação Nacional dos Especialistas em Políticas Públicas e Gestão Governamental (Anesp) mostram que, no serviço público federal, do total de DAS (cargos de Direção e Assessoramento Superior), em 2018, as mulheres ocupavam 43%. Mas, quanto mais próximo da liderança, maior a discrepância entre os sexos. “No geral, as mulheres estão bem representadas até o nível 3, quando ocupavam 48% das posições. A partir do nível 4, vê-se uma diminuição da participação delas nos cargos de confiança. No nível 6 elas representam apenas 17%”, lembra Pâmela. (VB)
Fonte: CB