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Chegam hoje ao Brasil o lote de dois milhões de doses prontas da vacina desenvolvida pela Universidade de Oxford com a AstraZeneca, produzidas pelo Instituto Serum, da Índia. Entre o prazo anunciado pelo governo federal e a liberação dos imunizantes, cuja confirmação ocorreu no mesmo dia em que um incêndio atingiu o laboratório produtor, há um hiato de uma semana. A previsão, segundo a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), é de que as vacinas estejam prontas para distribuição amanhã, à tarde.
A informação do embarque das doses foi comemorada pelo presidente Jair Bolsonaro, que anunciou, pela conta no Twitter, a chegada do carregamento. A carga será transportada em voo comercial para o Aeroporto de Guarulhos (SP) e seguirá para o aeroporto internacional Tom Jobim, no Rio de Janeiro, na mesma aeronave que havia sido destacada, semana passada, para ir buscar as doses em Mumbai.
Antes de ser distribuída, a Fiocruz, responsável pela produção da vacina no país, fará uma checagem de qualidade e segurança antes de liberar a remessa para os estados, conforme prevêem as normas regulatórias. Os imunizantes passarão, ainda, por uma rotulagem, com etiquetagem das caixas com informações em português.
“Esse processo acontecerá ao longo da madrugada e na manhã de sábado, e será realizado por equipes treinadas em boas práticas de produção”, informou a fundação. Caberá ao Ministério da Saúde realizar a distribuição, o que deve ocorrer entre amanhã e domingo, segundo a Fiocruz.
Diferentemente da CoronaVac, que precisa guardar metade das doses para a segunda aplicação, a instrução em relação à vacina de Oxford é usar o lote de dois milhões de unidades neste primeiro momento, já que o intervalo entre uma aplicação e outra é de três meses.
A expectativa do governo federal era começar o programa de imunização na última segunda-feira, com a Oxford/AstraZeneca. Uma operação foi montada no último dia 14 para que um jato cargueiro saísse de Recife para Mumbai assim que o governo indiano desse o sinal verde para a busca das doses. A aeronave deveria partir na noite do dia 15, com previsão de chegada no território indiano no dia seguinte e de retorno ao Brasil no domingo seguinte (17).
Mas foi quando veio a frustração. Apesar de a carga estar pronta, precisava de autorização do governo indiano, que disse que priorizaria o seu próprio programa de imunização. Na ocasião, Bolsonaro afirmou que o avião sairia em “dois ou três dias”. Autoridades da Índia, porém, afirmaram que houve precipitação por parte do Brasil.
Na última terça-feira, os indianos começaram a exportação das primeiras vacinas contra o novo coronavírus e deixou o Brasil de fora. Os imunizantes seriam enviados a países vizinhos: Butão, Bangladesh, Nepal, Maldivas, Seychelles e Mianmar. Novamente, não houve clareza sobre a não liberação da carga prevista para a Fiocruz, mas, nos bastidores diplomáticos, a decisão não foi apenas estratégica, ao beneficiar a população de países fronteiriços, mas, sobretudo, política.
Isso porque a Índia não teve o apoio do Brasil, no ano passado, quando apresentou à Organização Mundial do Comércio (OMC) um pedido para quebra de patente para produtos relacionados ao combate ao novo coronavírus. O governo federal preferiu se alinhar aos Estados Unidos na questão e a proposta foi derrubada.
Para destravar as doses, autoridades começaram a se movimentar, ultrapassando o governo federal. Encabeçado pelo governador do Piauí, Wellington Dias (PT), que coordena no Fórum de Governadores a estratégia contra covid-19, o grupo protocolou um ofício ao presidente Jair Bolsonaro solicitando que o governo se empenhasse nas negociações com a Índia.
Pouco antes da divulgação da informação de que as vacinas seriam, finalmente, enviadas ao Brasil, o ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, afirmou que ainda não havia data prevista para o recebimento das doses. “Com relação à vinda das vacinas da Índia, as notícias são muito boas, mas não há data exata da decolagem. Ela será dada nos próximos dias. Próximos dias é muito próximo, por causa da posição indiana nesse desenho, não nosso”, disse o ministro.